segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Vejo que nem um breve engano posso ter.

Quando de minhas mágoas a comprida
Maginação os olhos me adormece,
Em sonhos aquela alma me aparece,
Que para mi foi sonho nesta vida.

Lá numa soidade, onde estendida
A vista por o campo desfalece,
Corro após ela; e ela então parece
Que mais de mi se alonga, compelida.

Brado: − Não me fujais, sombra benina. −
Ela (os olhos em mi c'um brando pejo,
Como quem diz que já não pode ser)

Torna a fugir-me; torno a bradar: − Dina...
E antes que diga mene, acordo, e vejo
Que nem um breve engano posso ter.

Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"

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