Vou transcrever a linda homenagem que meu amigo Rodrigo Daca prestou à seu pai.
Hoje não foi como nenhum outro dia de chuva. Foi um dia que certamente jamais esquecerei e se a situação fosse outra, talvez achasse apenas normal. Não adianta falar de dor, tristeza e do vazio que certamente sinto e que jamais senti em toda a minha vida. Eu quero apenas lembrar de tudo aquilo que aprendi e agreguei ao meu caráter e definir assim o legado de uma (de duas) das pessoas mais importantes da minha vida. E como é difícil desvencilhar praticamente tudo na minha rotina dessa pessoa. Desde a música, que na minha infância ouvia muita MPB e os clássicos do rock dos anos 50 e 60 sem nem ter noção do que era e vir a me apaixonar mais tarde pelo Fab Four. Aprendi a tocar algum instrumento, a cantar, a desenhar (ainda que não tão bem quanto ele), a ter um clube do coração (embora ele tivesse dois), o gosto pelo futebol de botão, por bons livros e o humor fino que certamente veio dele. Não pude dar meu último abraço e nem apertar sua mão (como sempre fazia quando chegava tarde da noite), devido ao estado de saúde já tão debilitado. Me ensinou que caráter é tudo. Que o gosto define a pessoa e que gostar é infinito e não importa se não for correspondido. Tentar sempre e recomeçar quando for preciso, ainda que se ache que é tarde, mas nunca é. Ainda me fez ver que a família vale qualquer sacrifício e que criar três filhos fica fácil quando se sabe disso. Por mais fechado que ele fosse (e isso eu herdei dele), a clareza e a bondade do gesto se faziam presentes quando nos cobrava com uma severidade ainda tímida, maior empenho nas mínimas tarefas. A teimosia se justificava quando ele acertava e quando errava se diluía num sorriso e numa desculpa, tantas vezes esfarrapada, mas perfeitamente compreensível. Meu pai foi um bom homem. Íntegro, sincero e muito, mas muito amável. Não há o que falar dele que não seja o bem. Artista de mão cheia, demorou a se dedicar exclusivamente à sua arte, porque a família vinha primeiro e a gente sabe que viver de arte no Brasil é uma lenda. Isso também aprendi com ele, mas tive que quebrar a cara antes de baixar a cabeça e compreender que ele sim, tinha razão. Beber sempre quando se está de bem com a vida, nunca na tristeza e preservar as mais antigas e sinceras amizades, ainda que torçam para times rivais. Também reforçava a ideia de encontrar alguém com quem eu pudesse conversar, porque o corpo padeceria e também, a manter a cabeça boa para não distorcer qualquer tipo de julgamento. Essas e outras ele soprava para mim como o vento e se às vezes não fazia me mover, me mostrava a direção. Obrigado, por tudo pai. Te amamos.
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