quarta-feira, 19 de junho de 2019

A importância do trabalho de ressocialização de detentos.



Segue abaixo reportagem do Unisul Hoje sobre esta experiência incrível que tive!


Triste. Frio. Sofrido. Essas, foram as primeiras impressões tiradas de uma sala pequena, sem janela, decorada apenas por algumas carteiras e um quadro negro. A princípio uma situação desanimadora. Entretanto, a sensação aflitiva logo foi embora, quando as cadeiras foram ocupadas por olhares interessados a espera de alguém que lhes mostrasse o caminho para um futuro melhor, mais promissor. Foi assim, a noite de quarta-feira (29), onde o responsável pelo Unisul.Futuro, Ronnie Baasch palestrou para detentos da Penitenciária Estadual de Florianópolis.
Ronnie, que coordena o projeto Unisul.Futuro, ministra palestras para estudantes tanto de escolas públicas, quanto de escolas particulares, com o intuito de promover uma orientação e direcionamento para as formas de ingresso no Ensino Superior. A palestra na penitenciária surgiu por meio de um desses trabalhos.
‘’Uma diretora de escola pública me convidou para proferir uma palestra numa penitenciária em um curso pré-vestibular voluntário, oferecido por eles. Atendendo ao convite eu fui até lá. Seria uma palestra específica sobre as formas de ingresso no ensino superior. São alunos que estão fazendo um pré-vestibular voluntário dentro da penitenciária e eu falaria com eles como são as formas de ingresso, como podem utilizar a nota do Enem, como conquistar uma bolsa e como podem se reinserir dentro desse Universo’’, conta.
Já na entrada, Ronnie percebe distinções no ambiente. É diferente do que costuma encontrar em outras palestras que promove: ‘’A gente já percebe a diferença na entrada, porque você passa por uma série de processos de identificação e protocolos de entrada no local. A única coisa que eu pude levar foi um pen drive e uma caneta para escrever no quadro. Não pude entrar com pasta, computador, carteira e celular, principalmente. Tudo ficou num ambiente reservado na entrada da penitenciária’’, relata. Após os protocolos iniciais, Ronnie foi direcionado a sala onde daria a palestra.
A palestra foi direcionada para 12 detentos, com faixa etária acima de 20 anos. Alguns pertenciam ao regime fechado que iriam progredir de regime no segundo semestre de 2019 e outros pertenciam ao regime semiaberto, que saem durante o dia, mas precisam voltar à noite para a penitenciária.
‘’Nesse local tive uma primeira impressão muito fria, pois havia celas, corredores, portas gradeadas, igual nos filmes. O local onde eles tinham aula era uma cela sem janelas, um ambiente pequeno, com carteiras e um quadro para poder utilizar. Nesse primeiro momento eu tive uma impressão um pouco triste, pois o lugar estava vazio, não tinha ninguém ali e a gente via que era um lugar de sofrimento. Conforme fui falando e vendo o interesse deles a minha percepção foi mudando. Eles estavam muito interessados em saber como faz para entrar no ensino superior. Demonstraram uma vontade de mudar de vida mesmo”, conta.
Ronnie disse que parecia uma sala de quinta série do ensino fundamental, quando as crianças descobrem algo que o professor traz de novo e arregalam os olhos. “Eles reagiram dessa maneira, deu para perceber que ficaram felizes com aquilo, as reações foram muito boas e isso me deixou extremamente realizado. Pude perceber que oportunidade legal que eu tive e a importância que tem os projetos de ressocialização, o quanto é importante a sociedade abraçar as pessoas, independentemente da situação”.
Para Ronnie, o trabalho do Departamento de Administração Prisional (DEAP) é fundamental para que os detentos possam ter oportunidades de ingresso: ‘’É muito importante este o trabalho do DEAP. Eles têm projetos dentro de penitenciárias para poder levar saúde e educação para os detentos. Um projeto pré-vestibular é um projeto voluntário, são professores voluntários que passam a esses alunos informações que sejam pertinentes para que eles possam fazer os vestibulares e o ENEM de uma forma mais assertiva’’, ressalta.
Ronnie ressalta ainda a importância da educação no processo de ressocialização: ‘’Talvez essas pessoas em algum momento da vida, tenham feito escolhas erradas muitas vezes pela falta de informação. Pode ser que se acaso tivessem a oportunidade de receber informações, o caminho fosse outro, tomassem outra decisão. Os índices de violência não estão atrelados ao índice de desemprego, mas estão atrelados aos índices de evasão escolar, existem estudos que falam isso. Então a continuidade dos estudos para quem está passando por um processo de ressocialização é fundamental”.
Segundo dados da Secretaria de Estado da Educação de outubro de 2018, no sistema prisional catarinense, 6.752 detentos estudam. Existem cerca de 159 salas de aula, equivalente a uma média de 3,2 salas por unidade prisional.

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